O Caldeirão da Santa Cruz do Deserto

Poster do longa metragem  (Fonte: Filmow)

Sobre o Documentário
O Caldeirão da Santa Cruz do Deserto é o documentário no qual estreou o cineasta cearense Rosemberg Cariry, em 1986. O longa retrata a história da comunidade religiosa do Caldeirão, que tinha como líder o beato José Lourenço. Pautada pelo trabalho, igualdade e religião, a comunidade logo obteve grande progresso, o que despertou a atenção das autoridades locais que acusavam os membros de comunistas e de realizarem atos profanos. A partir de depoimentos de remanescentes da época, o documentário resgata a memória da comunidade do Caldeirão da Santa Cruz do Deserto.

Sobre o Caldeirão
O Caldeirão de Santa Cruz do Deserto foi liderado por José Lourenço Gomes da Silva, o beato José Lourenço. Nascido em Pilões de Dentro, na Paraíba, o beato chegou a Juazeiro do Norte no ano de 1889, época do milagre da hóstia, realizado por Pe. Cícero.

Durante o período que esteve na cidade, o beato arrendou um lote de terra no sítio Baixa Dantas, município do Crato, onde formou uma comunidade.

Os problemas de José Lourenço com a igreja e o estado começaram em 1921, quando Pe. Cícero deixou aos cuidados dele um boi que recebeu de Delmiro Gouveia. Por se tratar de um presente do padre, o boi era bem tratado pelos membros da comunidade. Se aproveitando da oportunidade, os inimigos do Padre começaram a espalhar o boato de que as pessoas do sítio estavam adorando o boi e que o mesmo estaria fazendo milagres. Jose Lourenço acabou sendo preso por tal episódio e o boi sacrificado. Dias depois, por intermédio de Pe. Cícero, o beato foi solto e retornou a comunidade.

Em 1926, o sitio foi vendido e todos tiveram de deixar o local. Pe. Cícero resolveu intervir e enviou o beato e os membros da comunidade para a fazenda Caldeirão dos Jesuítas, no sopé da Serra do Araripe, distante vinte quilômetros do Crato.

No Caldeirão, a comunidade cresceu e se organizou, como afirma Tarcísio Marcos Alves:
"Na comunidade, a experiência vivida expressou-se em uma experimentação concreta da fé, a materialização de uma nova forma de vida: o trabalho tornou-se um meio para a salvação da alma. Foi a partir desta perspectiva religiosa - o trabalho como penitência - , que a comunidade camponesa do Caldeirão se organizou."
Cada família tinha sua casa, todos trabalhavam em favor da comunidade e recebiam de forma igualitária, o excedente era vendido e com o lucro se comprava querosene e remédios. O Caldeirão chegou a ter mais de dois mil habitantes e com esse crescimento, as atividades se diversificaram de tal forma que era possível encontrar profissionais das mais diversas especialidades, tornando o sítio praticamente autossustentável.

Após a morte de Pe. Cícero em 1934, o Caldeirão passou a sofrer pressões das elites políticas e religiosas que começaram a se preocupar com o crescimento da comunidade e a popularidade do beato, que poderia se transformar em um novo Antônio Conselheiro. Os jornais iniciaram uma série de denúncias contra a comunidade e José Lourenço, acusando-os de profanos e fanáticos.

Em 1936, o Caldeirão foi invadido pelo Tenente José Góis de Campos Barros e sua tropa, que com muita violência e excesso, expulsaram todos os moradores, saquearam e destruíram o sítio. José Lourenço conseguiu fugir e se refugiou na Serra do Araripe com outros camponeses.

Severino Tavares, membro da comunidade, após sair da prisão, prometeu vingança às tropas da polícia. Mesmo sendo contra a vingança, José Lourenço não conseguiu impedi-lo. Severino montou uma emboscada com alguns seguidores e atacaram as tropas comandadas pelo Capitão José Bezerra. Ao fim da batalha, o Capitão, Severino e seu filho, estavam mortos.

O ocorrido foi o estopim para o conflito, tropas de todo o estado foram enviadas para a serra do Araripe, até aviões foram usados para bombardear a Serra. De acordo com Tarcísio Marcos Alves: "Foi a primeira ação de extermínio do Exército Brasileiro, e Polícia Militar do Estado do Ceará. Acontecera o primeiro ataque aéreo da história do Brasil." Fontes orais afirmam que o número de mortos foi entre 700 a 1000 camponeses.

Após escapar do bombardeio, José Lourenço ainda conseguiu voltar para o Caldeirão, no ano de 1938, depois de muitas negociações. Mas não ficou muito tempo, logo foi expulso pelos padres salesianos. José Lourenço acabou indo morar com algumas famílias remanescentes da comunidade em Exu, Pernambuco, onde adquiriu uma pequena propriedade. O Beato viveu em Exu por oito anos, vindo a falecer no dia 12 de fevereiro de 1946, vitimado pela peste bubônica.

Seu foi conduzido pela Chapada do Araripe até Juazeiro do Norte. Chegando à capela onde seria realizada a missa de corpo presente, o padre responsável pela celebração se recusou a cumprir o ritual.

Para mais informações sobre o ocorrido, indico o texto do professor da UFPE Tarcísio Marcos Alves, que está no final da postagem.

Ficha Técnica
Gênero: Documentário
Diretor: Rosemberg Cariry
Ano de Lançamento: 1985
País de Origem: Brasil
Direção: Rosemberg Cariry
Roteiro: Rosemberg Cariry e Firmino Holanda
Produção Executiva: Francis Gome Vale, José Wilton (Dede) e Teta Maia
Dir. de Produção: Robson Gomes de Azevedo e Jeferson de Albuquerque Jr.
Assistente de Produção: Teta Maia; José Roberto França; Carlos Alberto Normando; Jacson Bantim e Silvanildo Tavares
Direção Fotografia: Ronaldo Nunes
Montagem/Edição: Carlos Cox e Manfredo Caldas

Mais informações:
"A Tragédia Da Comunidade Camponesa Igualitária Do Sítio Caldeirão" texto de Tarcísio Marcos Alves
Cultura no Cariri
Geraldo Valintim

Como citar essa postagem:
MEMÓRIAS DO CORDEL. O Caldeirão da Santa Cruz do Deserto. Diponível em: <http://memoriasdocordel.blogspot.com.br/2013/08/o-caldeirao-da-santa-cruz-do-deserto.html>. Acesso em: dia Mês Ano.

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