Xilógrafos Nordestinos #3 - J. Borges

J. Borges (Fonte: Lost Art)
"Fui criado no tempo em que o telefonema era um grito. Os remédios eram chás de folhas de mato, o médico era um rezadeira, as festas eram comemoradas com um samba de toada e o almoço era um guisado de muído de boi."
Memórias e contos de J. Borges. Bezerros: Gráfica Borges, s.d.
José Francisco Borges, o J. Borges nasceu no dia 20 de dezembro de 1935, na cidade de Bezerros-PE, distante 100 km de Recife e 34 km de Caruaru. Filho de pais agricultores, J. Borges começou desde cedo na lavoura, aos oito anos de idade já trabalhava na terra com o pai.

Além do trabalho na lavoura, Borges confeccionava cestos e balaios para vender na feira de Bezerros. Quando adolescente, trabalhou com jogo do bicho, fabricou tijolos e móveis de brinquedo. Em 1956, com 21 anos de idade, começou a revender folhetos nas feiras da região. J. Borges conta que aprendeu a ler e escrever para produzir seus próprios folhetos.

Seu primeiro folheto, O encontro de dois vaqueiros no Sertão de Petrolina, foi ilustrado por Dila e publicado em 1964. Pouco tempo depois, lançou seu segundo folheto: O verdadeiro aviso de Frei Damião sobre os castigos que vêm. Com dificuldades para conseguir um clichê para ilustrar a capa e por causa dos custos, J. Borges resolveu ilustrar ele mesmo a capa do folheto com um desenho da fachada da igreja de Bezerros (essa matriz continua preservada em seu ateliê).

Com pouco tempo, J. Borges adquiriu máquinas de impressão e passou também a editar folhetos. O grande salto na carreira do xilógrafo ocorreu em 1972, quando por intermédio dos pintores cariocas Ivan Marquetti e José Maria de Souza, as xilogravuras de Borges chegaram a Ariano Suassuna que o considerou como o “melhor gravador do Nordeste”. A partir daí o xilógrafo começou a ficar conhecido nacional e internacionalmente, suas xilogravuras passaram a ser encomendadas por artistas plásticos, colecionadores e intelectuais, vale destacar que esse reconhecimento do artista, ajudou na autonomização da xilogravura em relação ao cordel.

O modo como retrata os seus personagens, a combinação de cores e o humor utilizado em seus poemas e gravuras, tornam J. Borges personagem único na cultura popular nordestina. A xilogravura feita para o cordel A chegada da prostituta no céu, publicado em 1976, é uma das preferidas do artista.

Capa do cordel A chegada da prostituta no céu

Forró Pé de Serra, xilogravura de J. Borges

Hoje, as xilogravuras do artista ilustram todos os tipos de materiais. Sua arte é reconhecida por todo o mundo, já expôs por diversos países como: Estados Unidos, França, Alemanha, México e Suíça. Em 1999, recebeu do então presidente da república, Fernando Henrique Cardoso, o prêmio de Honra ao Mérito Cultural do Ministério da Cultura. Pouco tempo depois, em 2002, foi o único artista latino americano a participar do calendário da UNICEF com a xilogravura “A Vida na Floresta”. Em 2006, chegou a ser tema de reportagem no New York Times (clique aqui para ler a matéria na íntegra), no mesmo ano, foi considerado Patrimônio Vivo de Pernambuco pelo Governo do Estado.

Para conhecer J. Borges, basta visitar seu ateliê na Casa de Cultura Serra Negra em Bezerros-PE, no km 106 da BR 232.

Mais informações: 
A ARTE DE J. BORGES: do Cordel À Xilogravura. Catálogo da exposição realizada no Museu Oscar Niemeyer em Curitiba no ano de 2008.
MACHADO, Regina Coeli Vieira. J. Borges. Pesquisa Escolar Online, Fundação Joaquim Nabuco, Recife. Disponível em: <http://basilio.fundaj.gov.br/pesquisaescolar/>. Acesso em: 8 ago. 2013.

Arte Popular do Brasil
Lost Art

Como citar essa postagem:
MEMÓRIAS DO CORDEL. Xilógrafos Nordestinos #3 - J Borges. Diponível em: <http://memoriasdocordel.blogspot.com.br/2013/08/xilografos-nordestinos-3-j-borges.html>. Acesso em: dia Mês Ano.

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