Grandes Nomes do Cordel #1 - Leandro Gomes de Barros

Leandro Gomes de Barros (Fonte: acordacordel.blogspot.com )
“ A cabeça, um tanto grande e bem redonda,
O nariz, afilado, um pouco grosso:
As orelhas não são muito pequenas,
Beiço fino e não tem quase pescoço.

Tem a fala um pouco fina, voz sem som,
Cor branca e altura regular,
Pouca barba, bigode fino e louro,
Cambaleia um tanto quanto no andar.

Olhos grandes, bem azuis, têm cor do mar:
Corpo mole, mas não é tipo esquisito -
Tem pessoas que o acham muito feio,
Mas a mamãe, quando o viu, achou bonito! "
(Auto-retrato de Leandro Gomes de Barros na 
quarta-capa do folheto Peleja de Manoel Riachão com o Diabo).
É com esse autorretrato escrito por Leandro Gomes de Barros que começamos esta série de postagens intitulada Grandes Nomes do Cordel, e nada melhor do que começar falando sobre ele que foi o maior poeta da Literatura de Cordel. Leandro nasceu na Fazenda da Melancia, Município de Pombal - Paraíba em 19/11/1865 (Hoje, a fazenda pertence ao município de Paulista-PB).

Anos depois, se mudou para Teixeira, cidade paraibana que era um centro de poesia com cantadores como Inácio da Catingueira, Romano da Mãe d’Água e Bernardo Nogueira. Foi lá que o jovem Leandro começou a ter um contato mais próximo com a poesia. Por não ter uma voz adequada para a cantoria, resolveu escrever versos.

Por volta de 1880, Leandro se muda de Teixeira e vai para o estado de Pernambuco, passando pelas cidades de Jaboatão (onde morou até 1906), Vitória de Santo Antão e Recife (A partir de 1907) onde viveu de aluguel em vários endereços até fixar residência. Já na capital pernambucana, fez parceria com Silvino Pirauá e, juntos, montaram uma tipografia a fim de publicar seus folhetos. Nesse trecho do cordel Leandro Gomes de Barros: O Pioneiro da Literatura de Cordel de Klévisson Viana, o autor fala sobre esse início da publicação de folhetos:
"Lançaram quatro folhetos, 
Venderam de mão em mão; 
O sucesso foi tamanho 
E grande a repercussão: 
Nascia, ali, o cordelQue era a cópia fiel 
Da cultura do sertão." 
(VIANA, 2005).
Seus folhetos eram impressos na sua própria residência ou em tipografias do Recife e da Paraíba. Sendo, Leandro, o primeiro a publicar, editar e vender seus poemas. As capas desses folhetos eram caracterizadas pela presença de vinhetas e ornamentos.

Folheto de Leandro Gomes de Barros publicado em 1906
(Fonte: www.casaruibarbosa.gov.br)

Foi Leandro quem criou a atividade do folheteiro e do agente, a fim de que pudessem revender seus folhetos, pois o agente distribuía os folhetos de cordel por toda a região para os folheteiros que os revendiam nas feiras e mercados populares. Ele também é considerado o primeiro escritor brasileiro de literatura de cordel, tendo escrito aproximadamente 240 obras. Foi chamado de "Príncipe dos Poetas" por Carlos Drummond de Andrade em crônica publicada no Jornal do Brasil em 9 de setembro de 1976.

A temática abordada pelo autor abrangia críticas ao governo (impostos, custo de vida, greves), cangaço e humor, principalmente a personagem da sogra (considerada inimigo número um da paz doméstica, associada com freqüência ao Diabo). A Batalha de Oliveiros com Ferrabraz, História de João da Cruz, O Cachorro dos Mortos, História do Boi Misterioso, Donzela Teodora, Juvenal e O Dragão, Antonio Silvino: O Rei dos Cangaceiros e A Força do Amor são apenas algumas das inúmeras histórias que merecem destaque na produção literária do autor, que pode ser vista por completo clicando aqui.

Leandro Gomes de Barros foi o autor de cordel pioneiro na preocupação com os direitos autorais, na contracapa do folheto História de João da Cruz (1917) é possível observar a preocupação do autor com a reprodução de seus folhetos sem autorização:
Aviso importante: Aos meus caros leitores do Brasil - Ceará, Maranhão, Pará e Amazonas - aviso que desta data em diante todos os meus folhetos completos trarão o meu retrato. Faço este aviso afim de prevenir aos incautos que teem sido enganados na sua bôa fé por vendedores de folhetos menos serios que teem alterado e publicado os meus livros, comettendo assim um crime vergonhoso (BARROS, 1917).
Medida tomada por Leandro Gomes para prevenir a “pirataria” de seus folhetos
(Fonte: www.casaruibarbosa.gov.br)

O poeta faleceu em 4 de março de 1918, no Recife. Após sua morte, seu genro Pedro Baptista, dono de uma editora em Guarabira, continua a editar esses folhetos até 1920, onde após um desentendimento de Baptista com a viúva do poeta, Dona Venustiniana Aleixo de Barros, fez com que a viúva vendesse o espólio literário de Leandro ao pernambucano João Martins de Athayde que editou os folhetos do autor até 1945 quando vendeu os direitos autorais de Leandro para José Bernardo da Silva, dono da Tipografia São Francisco em Juazeiro do Norte.

A Fundação Casa de Rui Barbosa possui uma página dedicada ao poeta paraibano com biografia, produção literária e pesquisa acadêmica (acesse aqui). No acervo digital da Fundação há um vasto acervo de cordéis que podem ser visualizados clicando aqui.

Referências:
Biografia de Leandro no site Fundação Casa de Rui Barbosa
Folhetos de Papel: Memória do Cordel
Leandro Gomes de Barros: Grande Mestre da Poesia Popular Brasileira
Reportagem do Globo Rural sobre Leandro exibida em 02/01/2011

BARROS, Leandro Gomes. História de João da Cruz. Recife: Popular Editora, 1917.
VIANA, Klévisson. Leandro Gomes de Barros: O Pioneiro da Literatura de Cordel. 3ª edição. Fortaleza: Tupynanquim Editora, 2005.

Como citar essa postagem: 
MEMÓRIAS DO CORDEL. Grandes Nomes do Cordel #1 - Leandro Gomes de Barros. Disponível em: <http://memoriasdocordel.blogspot.com/2013/03/grandes-nomes-do-cordel-1-leandro-gomes.html>. Acesso em: dia Mês Ano.

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