Manoel Caboclo e a Folhetaria Casa dos Horóscopos

 Folheto editado na Folhetaria Casa dos Horóscopos
(Fonte: www.casaruibarbosa.gov.br)

Falar da Folhetaria Casa dos Horóscopos é falar de seu fundador o mestre Manoel Caboclo e Silva, portanto nesta postagem você vai acompanhar tanto a história da Folhetaria Casa dos Horóscopos como a de Manoel Caboclo e Silva.

Manoel Caboclo e Silva era filho de João Caboclo da Silva e Rita Zeferina de Athayde. A data de nascimento e o local é tema de controvérsias, de acordo com autor Gilmar de Carvalho (2006), Caboclo nasceu em Caririaçu, sul do Ceará em 1916 e de acordo com Reinaldo Forte Carvalho (2008), Caboclo nasceu em Belo Jardim, Pernambuco, no dia 2 de janeiro de 1926. Entretanto, Caboclo em entrevista realizada na década de 1970 pela equipe do “Projeto de Literatura de Cordel” relata que nasceu em Juazeiro do Norte.

Em 1938 à convite de José Bernardo da Silva passou a ser aprendiz na Tipografia São Francisco. Aos poucos foi conquistando o seu espaço até começar a trabalhar no processo de produção dos folhetos da Tipografia.

Segundo a autora Rosilene Alves de Melo (2010):
A convivência cotidiana com os folhetos e a observação dos segredos, e das estratégias utilizados pelos poetas para “prender” o leitor, aliado ao gosto pela poesia fizeram com que Manoel Caboclo se aventurasse a escrever suas primeiras histórias”. (MELO, 2010, p.92)
Inicialmente, Caboclo produzia seus folhetos anonimamente, foi por sugestão do pesquisador Liêdo Maranhão que ele passou a assumir a condição de autor dos seus folhetos. Seus poemas apresentam os mais variados detalhes do cotidiano vivenciados pela sociedade contemporânea como violência, romances, lutas e histórias de amor, mas foi a vertente religiosa, centrada na figura de Pe. Cícero a maior parte de sua produção poética.

Em 1948, Caboclo deixou a Tipografia São Francisco e foi trabalhar com João Ferreira de Lima, astrólogo, poeta e editor do “Almanaque de Pernambuco” que era impresso na Tipografia São Francisco. Juntos, Caboclo e João Ferreira de Lima abriram, em sociedade, uma gráfica que funcionou na Rua São Paulo, n ° 625, nas proximidades do Mercado Central de Juazeiro do Norte e passaram a imprimir o Almanaque de Pernambuco.

Passado um tempo, João Ferreira resolveu botar uma farmácia e a sociedade foi desfeita. Caboclo comprou o maquinário referente à parte do seu sócio e montou sua própria tipografia.

Com o maquinário adequado e uma vasta experiência adquirida ao longo do período que trabalhou com José Bernardo da Silva, na Tipografia São Francisco e José Ferreira de Lima, Caboclo se tornou um especialista que de acordo com Reinaldo Forte Carvalho (2008): “soube com ninguém fundir oralidade e escrita, ciência e magia, passado e futuro na trama de um texto tão rico quanto às experiências que ele acumulou”.

Em 1966 Caboclo fundava a sua própria gráfica, a Folhetaria Casa dos Horóscopos que funcionava Rua Todos os Santos, 263 em Juazeiro do Norte. Em sua gráfica, Caboclo publicou trabalhos de sua autoria e de outros autores como João Cordeiro e João de Cristo Rei. Nossa Senhora chorando falou à menina de dez anos foi o folheto mais famoso da Tipografia, com uma tiragem de 45 mil cópias, relata Caboclo.

Com o tempo Caboclo foi expandindo o seu negócio e no ano de 1973 adquiriu os direitos de publicação de Joaquim Batista de Sena que editava cordéis em Fortaleza, desse “pacote” vieram os direitos de publicação das obras de Luiz da Costa Pinheiro e de José Camelo, pertencentes a Batista de Sena.
  
Folheto editado na Folhetaria Casa dos Horóscopos
(Fonte: www.casaruibarbosa.gov.br)

Os folhetos da Casa dos Horóscopos eram ilustrados através das xilogravuras de Arlindo Marques, o Dinda, sobrinho de Caboclo. Aliás, Manoel Caboclo chegou a fazer algumas xilogravuras, mas por falta de tempo, não se aprofundou na arte de gravar.

Mas não foram só cordéis que a Folhetaria Casa dos Horóscopos editou, sua publicação mais famosa foi o almanaque O Juízo do Ano, que será tratado com mais detalhe na nossa próxima postagem, junto com os detalhes da atividade de Caboclo como astrólogo.

A Folhetaria encerrou suas atividades em 21 de julho de 1996, data da morte de Manoel Caboclo vítima de um acidente vascular cerebral. Somando os dois casamentos, Caboclo deixou cinco filhos e cerca de 19 adotivos. Como escritor, estima-se que ele tenha escrito mais de 50 folhetos além de ter deixado um legado valioso que foi o almanaque O Juízo do Ano que é objeto de pesquisa até os dias de hoje.

Mais informações:
CARVALHO, Gilmar de. Lyra Popular. Fortaleza: Museu do Ceará, 2006.
CARVALHO, Reinaldo Forte. Cordel, Almanaques e Horóscopos: E(ru)dição dos folhetos populares em Juazeiro do Norte-CE (1940 – 1960). Fortaleza, 2008. 127f. Dissertação (Mestrado História e Culturas) - Centro de Humanidades da Univesidade Estual do Ceará.
FRANÇA JÚNIOR, Luís Celestino de . O Juízo do Ano. Um estudo sobre o almanaque popular no Nordeste. In: V Congresso Nacional de História da Mídia, 2007, São Paulo. Anais do V Congresso Nacional de História da Mídia, 2007.
MELO, Rosilene Alves de. Arcanos do Verso: Trajetórias da literatura de cordel. Fortaleza: 7 Letras, 2010.
____________________. Escrito nas Estrelas: Almanaques Astrológicos, Relicários do Tempo, Prognósticos do Destino. XIII Encontro de História da UNPUH. Rio de Janeiro, 2007.

Acervo de entrevistas do Projeto de Literatura de Cordel do acervo do MIS-CE: FK7000416, FK7000410, FK7000421. Entrevistado: Manoel Caboclo. Entrevistadores: Oswald Barroso e equipe do Ceres. Juazeiro do Norte – CE, 1970.

Como citar essa postagem: 
MEMÓRIAS DO CORDEL. Manoel Caboclo e a Folhetaria Casa dos Horóscopos. Disponível em: <http://memoriasdocordel.blogspot.com/2013/05/manoel-caboclo-e-folhetaria-casa-dos.html>. Acesso em: dia Mês Ano.

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