São João de Caruaru

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São João de Caruaru (Fonte: caruaru.com.br)
“Do leste ao oeste
Do norte ao sul
Da beira-mar ao Sertão
Do famoso Pajeú
O São João melhor que tem
É o de Caruaru

Em 23 de Junho
Se repete a tradição
Com uma grande fogueira
Em louvou a S. João
Os meninos soltam musquitos
E os velhos mosquetão

No acender da fogueira
É grande a animação
O dono da casa já está
Com a roqueira na mão
Para dar o primeiro tiro
Em homenagem a São João”

Trecho do cordel “Um São João em Caruaru” de Maria do Carmo Cristóvão.
A cidade de Caruaru está localizada na região do Agreste de Pernambuco, cerca de 130 km do Recife. Conhecida como “Princesa do Agreste” e “Capital do Forró”, a cidade é a mais populosa do interior do estado e famosa por sua cultura popular.

O São João de Caruaru é um dos maiores do país, reunindo cerca de 1,5 milhões de visitantes durante os 30 dias de festa. A tradição da cidade em festas juninas começou ainda no final do século XIX, onde as comemorações já atraiam moradores das cidades vizinhas e do Recife. Os festejos eram organizados pelos proprietários rurais locais e tinham elementos tradicionais como as fogueiras, balões, fogos de artifício, quadrilhas e comidas típicas.

O escritor caruaruense Nelson Barbalho, faz um relato de como eram os festejos juninos em Caruaru durante a década de 1950:
Em todos os lares se iniciavam os preparativos para a noite: lenha na porta de casa para as tradicionais fogueiras, mesas postas com toalhas e utensílios novos em comemoração à data e ‘porque vinha gente de fora’, últimos retoques em vestidos. [...] Pontos vermelhos surgiam de casa em casa – eram as fogueiras que se acendiam. Todas as janelas se abriam e ostentavam balõezinhos multicores acesos por dentro com tocos de vela. Jantava-se apressadamente – canjica, pamonha, bolo, café e milho cozido à vontade.” (BARBALHO, 1981)
O São João de Caruaru apresenta uma especificidade, as “Drilhas”, que surgiram em 1989, a partir das quadrilhas juninas. De acordo com Lucia Gaspar elas consistem em.
Blocos juninos semelhantes aos trios elétricos do carnaval de Salvador. Para não descaracterizar as tradições da festa junina, elas só se apresentam à tarde, na Avenida Agamenon Magalhães. As mais antigas e tradicionais são a Gaydrilha, onde só homens participam vestidos de matutos e matutas e outros personagens típicos e a Sapadrilha, com mulheres vestidas de homem, ambas criadas em 1989.” (GASPAR, 2014)
A atual versão do São João de Caruaru acontece desde 1994 no Pátio de Eventos Luiz Gonzaga, um complexo com mais de 40 mil metros quadrados. São mais de 350 atrações durante os 30 dias de festejos, passam pela cidade, turistas de todo o Brasil e do exterior. Uma característica importante do festejo junino de Caruaru é a valorização da cultura local, onde grande parte da grade de programação do evento é composta por caruaruenses.

A estrutura do evento conta com 7 polos:

Pátio de Eventos Luiz Gonzaga: Com capacidade para receber cerca de 100 mil pessoas, é o local onde são realizados os shows e conta com uma moderna estrutura de palco com 18 metros de comprimento em formato de concha. É lá também que está instalada a Vila do Forró, uma área cenográfica de 1.500 m² contendo casas coloridas, posto bancário, correios, prefeitura, igrejinha, mercearia e comidas típicas da culinária regional como feijão-de-corda, assado de bode, manteiga de garrafa, pamonha, canjica, milho verde cozido e assado.

Forró do Candeeiro: Com área de 375 metros quadrados, é nesse polo que se apresentam os artistas locais que cantam e dançam o autêntico forró.

Mestre Vitalino (Estação Ferroviária): Consiste em uma cidade cenográfica cujos nomes das ruas homenageiam grandes artistas regionais e nacionais. É possível também encontrar Comida típica, Artesanato e uma boa música.

Polo do Repente: Espaço destinado à cultura popular, com apresentações de repentistas, cordelistas, declamadores, aboiadores, emboladores de côco, contadores de causos e esquete teatral.

Polo Alternativo: É o espaço onde acontecem as fusões musicais entre: Rock, MPB e Pop.

Alto do Moura: O espaço conta com apresentações de Forró Pé de Serra, bandas de Pífano, além de conter restaurantes que oferecem os mais variados pratos da culinária nordestina.

Polo dos Restaurantes: Consiste em um conjunto de restaurantes com comidas e bebidas típicas, além de uma palhoça onde ocorrem apresentações culturais de diversas cidades do Nordeste.

O Maior Pé de Moleque (Fonte: São João de Caruaru)

Para finalizar a postagem, cabe destacar que os festejos juninos de Caruaru costumam promovem atrações gigantescas, como: a maior fogueira de São João, que é feita com madeira ecológica e acesa no dia 28 de junho e as comidas gigantes como: o maior quentão; a maior pipoca; a maior pamonha; o maior cuscuz; o bolo de milho gigante; o maior pé de moleque; o maior arroz-doce; a canjica gigante; o maior xerém e o tradicional cozido gigante.

Mais informações:
Caruaru
Facebook Oficial
São João de Caruaru
UOL

BARBALHO, Nelson. Caruaru, cidade princesa: visão histórica e social, 1905 a 1908. Recife: [s.n.], 1981.
_________________. São João. In: ______. Caruraru, Caruaru: nótulas subsidiárias para a história do Agreste de Pernambuco. Caruaru (PE): [s.n.], 1972. 
GASPAR, Lucia. São João em Caruaru, Pernambuco. Pesquisa Escolar Online, Fundação Joaquim Nabuco, Recife. Acesso em: 05 Jun. 2014.

Como citar essa postagem:
MEMÓRIAS DO CORDEL. São João de Caruaru. Diponível em: <http://www.memoriasdocordel.com.br/2014/06/sao-joao-de-caruaru.html>. Acesso em: dia Mês Ano.

Clássicos do Cordel #6 - História de Zezinho e Mariquinha

Capa do folheto Ilustrada por Damásio Paulo e publicada pela 
Tipografia São Francisco (Fonte: www.casaruibarbosa.gov.br)

Prosseguindo a nossa série de postagens sobre os clássicos da literatura de cordel, apresentamos nessa semana a História de Zezinho e Mariquinha.

Título:
História de Zezinho e Mariquinha

Autor:
Silvino Pirauá de Lima

Sinopse:
O cordel conta a história de Mariquinha, filha de família rica e Zezinho, filho de sapateiro. Os dois se apaixonam ainda quando jovens, mas sofrem a recusa do pai de Mariquinha que não aceita que sua filha se case com um filho de sapateiro.

Entre os diálogos que há na história sobre riqueza e pobreza, cabe destacar um trecho muito interessante onde Mariquinha responde a Zezinho sobre ele ser pobre e ela rica:

Porém lhe disse Zezinho
com relação a riqueza:
Mariquinha tu és rica
de dinheiro e de beleza
eu acho muito custoso
te casares na pobreza

Mariquinha respondeu: 
ser pobre não é vileza 
eu sou rica, tu és pobre 
eu sou a tua riqueza 
o dinheiro compra tudo 
porem não compra firmeza

Como citar essa postagem: 
MEMÓRIAS DO CORDEL. Clássicos do Cordel #6 - História de Zezinho e Mariquinha. Diponível em: <http://www.memoriasdocordel.com.br/2014/05/classicos-do-cordel-6-historia-de.html>. Acesso em: dia Mês Ano.

Dominguinhos, O Filme

Poster do Filme (Fonte: Blog Notas Musicais)
O filme propõe uma visão original sobre Dominguinhos, que revela o poder da música de uma maneira natural, espontânea e ao mesmo tempo precisa.
Benfeitoria.com
Dominguinhos é um documentário que faz parte do projeto Dominguinhos +, que inclui também uma websérie que retrata encontros do cantor com artistas como: Gilberto Gil, Djavan, Elba Ramalho e Hermeto Pascoal.

O filme aborda a vida e obra do cantor, compositor e sanfoneiro José Domingos de Morais, o Dominguinhos, que nasceu no ano de 1941 em Garanhuns/PE e faleceu em 23 de julho de 2013 em São Paulo/SP. Os dados do documentário foram levantados através de entrevistas do próprio Dominguinhos para a equipe do longa e para programas televisivos. Durante os mais de 80 minutos de documentário é possível ver, em ordem cronológica, a trajetória musical do cantor através de passagens da sua vida, de shows e encontros musicais. Dentre esses encontros, vemos apresentações raras do músico, como por exemplo, um ensaio com Nana Caymmi que chora ao cantar com ele Contrato de Separação. Segue abaixo o trailler do documentário:



Sinopse
Um retrato do sanfoneiro, cantor e compositor Dominguinhos (1941 - 2013), discípulo de Luis Gonzaga e autor de sucessos como "Eu Só Quero um Xodó", "Gostoso Demais", "De Volta Pro Aconchego" e "Lamento Sertanejo". Sua obra revive em imagens de arquivo, derramando uma história que se multiplica em sons, versos e beleza.

Ficha Técnica:
Gênero: Documentário
Ano: 2014
Duração: 84 minutos
Idealização, Direção Musical e Produção Associada: Eduardo Nazarian, Mariana Aydar e Duani
Produção: Deborah Osborn, Felipe Briso e Gilberto Topczewski
Direção: Joaquim Castro, Eduardo Nazarian e Mariana Aydar
Produção Executiva: Deborah Osborn
Roteiro: Di Moretti
Montagem: Joaquim Castro
Pesquisa: Eloa Chouzal
Desenho de Som: Joaquim Castro e Edson Secco
Direção de fotografia: Tiago Tambelli, Pedro Urano
Direção de Cenas: Felipe Briso e Joaquim Castro
Finalização: Zumbi Post

Mais informações: 
Adoro Cinema
Benfeitoria.com
Blog Notas Musicais

Como citar essa postagem: 
MEMÓRIAS DO CORDEL. Dominguinhos, O Filme. Diponível em: <http://www.memoriasdocordel.com.br/2014/05/dominguinhos-o-filme.html>. Acesso em: dia Mês Ano.

Grandes Nomes do Cordel #6 - Rodolfo Coelho Cavalcante

Rodolfo Coelho Cavalcante (Fonte: Portal O Nordeste)

Rodolfo Coelho Cavalcante nasceu em 1919 na cidade alagoana de Rio Largo. Filho de Arthur de Holanda Cavalcante e Maria Coelho Cavalcante, Rodolfo é considerado um grande defensor e líder dos poetas populares, batalhando 45 anos de sua vida pela valorização dos poetas e trovadores.

Criado pelos avós maternos aprendeu a ler com sua avó e a recitar poemas com o avô. Seus parentes e vizinhos se admiravam com a desenvoltura do jovem ao declamar poemas. Aos oitos anos de idade voltou a morar com os pais que se mudaram para Maceió. Entre idas e vindas de sua família entre Maceió e Rio Largo, Rodolfo trabalhou prestando pequenos serviços. Na capital alagoana, o jovem trabalhou nas Lojas Paulistas, criando versos e adaptando letras de músicas, sua função era atrair clientes para a loja, porém, o emprego não durou muito, a imprensa local denunciou seu serviço como "exploração do trabalho infantil" e o jovem perdeu o emprego.

Com 13 anos de idade, Rodolfo Coelho deixou os pais e tentou ganhar a vida percorrendo o interior nordestino, trabalhando, dentre outras atividades, como propagandista, palhaço de circo e camelô. Chegou a atuar como professor primário concursado em Luzilândia no Piauí ate 1938.

Seu primeiro folheto foi escrito quando estava por passagem em Fortaleza, o cordel versava sobre um afogamento ocorrido na praia de Iracema. O folheto fez muito sucesso e vendeu cerca de três mil exemplares em poucos dias.

Em 1942, o poeta foi para Teresina e começou a publicar folhetos, "Os clamores dos incêndios em Teresina" foi um dos mais famosos. A estadia de Rodolfo na capital piauiense não demorou muito, em 1945, por problemas administrativos em seu comércio, ele resolveu se mudar para Salvador, Bahia.

Rodolfo foi perseguido pelas autoridades da época, por vender folhetos de cordel, como conta Maria do Carmo Andrade:
"Conta-se que certo dia, quando estava vendendo seus folhetos na rua, chegou um oficial do gabinete do governador e ‘convidou-o’ para se apresentar ao chefe do Estado que, para surpresa de Rodolfo, disse que havia gostado do seu folheto ABC de Otávio Mangabeira. Depois de uma amigável conversa, o governador perguntou ao cordelista o que poderia fazer por ele. Rodolfo imediatamente falou sobre a falta de liberdade para vender seus folhetos. O governador, que gostava desse tipo de literatura, logo determinou que o trovador Rodolfo Cavalcanti pudesse comercializar seus folhetos em qualquer praça do estado da Bahia" (ANDRADE, 2014).
Atuando como editor e poeta, formou uma grande rede de agentes e distribuidores em toda a região Nordeste, publicando principalmente em Salvador e Jequié. A temática de seus folhetos era das mais diversas, o poeta escrevia abecês, biografias, cantorias e fatos do cotidiano. Um dos seus grandes sucessos de vendas foi o folheto A volta de Getúlio, publicado dois dias depois da queda de Getúlio Vargas (ANDRADE, 2014).

Outros cordéis de destaque de Rodolfo são: A moça que bateu na mãe e virou cachorra, A chegada de Lampião no céu, ABC do Carnaval, ABC da macumba e O Drama do comandante

Cabe destacar nessa postagem, que Rodolfo Coelho Cavalcante foi um grande defensor e divulgador da classe dos poetas. Em 1955, com Manuel d'Almeida Filho e outros expoentes da poesia popular, realizou de 1º a 5 de julho, em Salvador, o I Congresso Nacional de Trovadores e Violeiros, na Bahia. Foi nesse congresso que ocorreu a fundação da Associação Nacional de Trovadores e Violeiros, atual Grêmio Brasileiro de Trovadores, que tem sede em Salvador.

O poeta atuou também na imprensa, foi fundador da Associação de Imprensa Periódica da Bahia e filiado à Associação Baiana de Imprensa. Fundou também os periódicos A Voz do Trovador, O Trovador e Brasil Poético.

Rodolfo Coelho Cavalcante faleceu em 7 de outubro de 1986, vitima de um atropelamento, sua morte repentina causou comoção geral e repercutiu em todo o Brasil e exterior, inúmeros foram os folhetos publicados sobre o poeta após sua morte. Para finalizar essa postagem, segue a trova enviada por Rodolfo, pouco antes de morrer, para o II Concurso de Trovas de Belém do Pará:
Quando este mundo eu deixar,
A ninguém direi adeus.
Dos poetas quero levar
Suas trovas para Deus.

Rodolfo Coelho Cavalcante
Mais informações:
Oficina de Cordel
Fundação Casa de Rui Barbosa
Wikipédia

ANDRADE, Maria do Carmo. Rodolfo Coelho Cavalcanti. Pesquisa Escolar Online, Fundação Joaquim Nabuco, Recife.

Como citar essa postagem:
MEMÓRIAS DO CORDEL. Grandes Nomes do Cordel #6 - Rodolfo Coelho Cavalcante. Diponível em: <http://www.memoriasdocordel.com.br/2014/05/grandes-nomes-do-cordel-6-rodolfo.html>. Acesso em: dia Mês Ano.

Cordeltecas #8 - Acervo Maria Alice Amorim

Acervo Maria Alice Amorim (Fonte: Ciberteca de Cordel)

O Acervo Maria Alice Amorim é composto de folhetos, almanaques e folhas volantes. A coleção de folhas volantes é composta de: novenas, canções, orações e poemas. As informações apresentadas aqui foram retiradas do site do acervo.

A coleção de cordéis de Maria Alice Amorim teve início a partir da década de 1980, vindo a ganhar consistência na década de 1990 com a aquisição de folhetos doados pelo poeta Pedro Américo de Farias; do cordelista, editor e xilógrafo Marcelo Soares, e nos anos 2000, quando foi criada no Recife uma grande feira anual de artesanato que contava com a presença de autores e editores de cordel de toda a região.

Maria Alice Amorim nasceu em Juazeiro/BA e cresceu em Petrolina/PE. Com formação em Psicologia, Jornalismo e mestrado em Comunicação e Semiótica, essa baiana tem uma grande paixão pela cultura popular nordestina, principalmente a literatura de cordel.

O acervo da instituição conta mais de 7300 folhetos de cordel, que são catalogados sob as normas da ABNT, com informações como: autor, título, editora, local, ano, nº de páginas e artista da capa. Os folhetos podem ser acessados através de link no final da postagem, para visualizá-los por completo, é necessária a visita presencial na Fundação Joaquim Nabuco, localizada em Recife-PE.

Mais informações: 
Acervo Maria Alice Amorim
Fundação Joaquim Nabuco: Av. Dezessete de Agosto, 2187 - Casa Forte
Recife-PE
Fone: (81) 3073-6363
http://www.cibertecadecordel.com.br

Como citar essa postagem: 
MEMÓRIAS DO CORDEL. Cordeltecas #8 - Acervo Maria Alice Amorim. Diponível em: <http://www.memoriasdocordel.com.br/2014/05/cordeltecas-7-acervo-maria-alice-amorim.html>. Acesso em: dia Mês Ano.

Clássicos do Cordel #5 - História de Juvenal e O Dragão

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Capa do folheto Ilustrada por Stênio Diniz e publicada pela 
Tipografia São Francisco (Fonte: www.casaruibarbosa.gov.br)

Prosseguindo a nossa série de postagens sobre os clássicos da literatura de cordel, apresentamos nessa semana História de Juvenal e O Dragão.

Título:
História de Juvenal e O Dragão

Autor:
Leandro Gomes de Barros

Sinopse:
A História de Juvenal e o Dragão conta sobre um filho de camponês que sai a procura de aventuras após a morte do pai, durante suas andanças, ele encontra um desconhecido que propõe que Juvenal trocasse seus três carneiros pelos seus três cães: Rompe-Ferro, Ventania e Provador. O ponto alto da história é quando Juvenal e Rompe-Ferro travam uma batalha contra um Dragão que queria devorar uma princesa.

Abaixo segue outra versão da capa, gravada em zincografia:

História de Juvenal e o dragão - 1949_02.jpg
Outra versão da capa ilustrada em zincografia
(Fonte: www.casaruibarbosa.gov.br)

Como citar essa postagem:
MEMÓRIAS DO CORDEL. Clássicos do Cordel #5 -  História de Juvenal e O Dragão. Diponível em: <>. Acesso em: dia Mês Ano.

O País de São Saruê

Poster do Filme  (Fonte: Manuscrito UFPB)
Este filme é dedicado aos humildes lavradores, vaqueiros, tangerinos, violeiros e retirantes que muitas vezes interromperam suas tarefas para nos ajudar a realizá-lo.
Dedicatória no início do filme
O País de São Saruê foi um documentário, dirigido pelo paraibano Vladimir Carvalho e lançado em 1971, sobre a região sertaneja do Rio do Peixe. Localizada entre os estados da Paraíba, Pernambuco e Ceará, essa região sofre com constantes secas.

Antes de começar a falar sobre o documentário, cabe apresentar o seu diretor, Vladimir Carvalho. Nascido em 1935, na cidade de Itabaiana/PB, Vladimir Carvalho já produziu inúmeras obras cinematográficas tendo o sertão nordestino como seu principal tema. Antes de virar cineasta, o paraibano trabalhou em vários jornais da Paraíba e do Rio de Janeiro. Seu contato com o cinema começou com a participação na produção do filme Aruanda em 1960. Um ano depois, junto com João Ramiro, dirigiu o filme Romeiros da Guia que contava sobre a peregrinação anual dos pescadores do litoral de João Pessoa à Igreja Nossa Senhora da Guia. Entre outras obras de destaque do cineasta, estão: Incelência para um trem de ferro (1972), A pedra da riqueza (1975), Mutirão (1975), Quilombo (1976) e Rock Brasília (2011).

Com uma bela fotografia, o documentário O País de São Saruê aborda a questão da seca, a relação do homem com a terra e as atividades econômicas da região, como a lavoura, as grandes feiras e o garimpo do ouro. Seu título foi inspirado no cordel, do também paraibano, Manoel Camilo dos Santos intitulado Viagem ao País de São Saruê, que versa sobre uma terra mitológica cheia de riqueza e fartura “toda coberta de ouro e forrada de cristal”, abaixo segue um trecho da descrição feita pelo poeta:

Lá os tijolos das casas 
são de cristal e marfim 
as portas barras de prata 
fechaduras de 'rubim' 
as telhas folhas de ouro 
e o piso de sitim [sic]. 

Lá eu vi rios de leite 
barreiras de carne assada 
lagoas de mel de abelha 
atoleiros de coalhada 
açudes de vinho do porto 
montes de carne guisada.
(SANTOS, s/d)

Além da bela fotografia, a trilha sonora e a narração também chamam muito atenção. Logo no início, há a narração do poema "monólogo sobre o sertão" de Jomar Moraes e que serve como "espinha dorsal sonora do filme" (RAMOS; MIRANDA, 1997, p. 98).

Finalizado em 1971, o documentário foi proibido, sendo liberado pelos órgãos de censura apenas em 1979 quando foi selecionado para o Festival de Brasília e recebeu o Prêmio Especial do Júri.

Outra curiosidade sobre o filme é que ele começou a ser filmado em 1966, porém, as filmagens tiveram de ser suspensas, pois as constantes chuvas na região modificaram a paisagem local, só em 1967 já com a paisagem novamente seca e representando a realidade do sertão, é que as filmagens foram retomadas.

Ficha Técnica:
Gênero: Documentário
Ano de Lançamento: 1971
Duração: 80 Minutos
País de Origem: Brasil
Direção: Vladimir Carvalho
Roteiro: Vladimir Carvalho
Direção Fotografia: Manoel Clemente
Edição: Eduardo Leone
Produção: Vladimir Carvalho e João Ramiro Mello

Entrevistas:
José Gadelha - Usineiro e parlamentar
Charles Foster - do Peace Corps
Antonio Mariz - Prefeito
Pedro Alma - Pioneiro do ouro
Zeca Inocêncio - Ex-garimpeiro.

Mais informações:
2001 Vídeo
Paraíba Hoje

SANTOS, Manoel Camilo dos.Viagem ao País de São Saruê. Paraíba: s/l. s/d.
RAMOS, Fernão; MIRANDA, Luiz Felipe. (Org.) Enciclopédia do Cinema Brasileiro. São Paulo: Senac, 1997.

Como citar essa postagem: 
MEMÓRIAS DO CORDEL. O Pais de São Saruê. Diponível em: <http://www.memoriasdocordel.com.br/2014/04/o-pais-de-sao-sarue.html>. Acesso em: dia Mês Ano.

Clássicos do Cordel #4 - A Chegada de Lampião no Inferno


Capa do folheto Ilustrada por Stênio Diniz e publicada em 1977 pela
Tipografia São Francisco (Fonte: www.casaruibarbosa.gov.br)

Seguindo a nossa série de postagens sobre os clássicos da literatura de cordel, apresentamos nessa semana a fantástica história da chegada de Lampião no Inferno.

Título:
A Chegada de Lampião no Inferno

Autor:
José Pacheco

Sinopse:
Escrito por José Pacheco, o cordel conta a história da batalha que Lampião teve nos portões do Inferno contra o exército de Satanás que o impediu de entrar no Inferno, alegando que já havia muita gente ruim lá.

Abaixo segue outra versão da capa, com xilogravura feita por J. Borges:

 Versão da capa ilustrada por J. Borges
(Fonte: www.casaruibarbosa.gov.br)
 
Como citar essa postagem: 
MEMÓRIAS DO CORDEL. Clássicos do Cordel #4 - A Chegada de Lampião no Inferno. Diponível em: <http://www.memoriasdocordel.com.br/2014/04/classicos-do-cordel-4-chegada-de.html>. Acesso em: dia Mês Ano.

Cordéis do Mundo #3 - Corridos Mexicanos

Corrido “La cucaracha” (Fonte: Wikipédia)
Los corridos son el sucesor mexicano del romance español. Expresan sentimientos e ideas, triunfos, derrotas, dolores, alegrías tan grandes que toman un cariz colectivo entre el pueblo mexicano.
RioWang
Os primeiros corridos que se tem conhecimento são versões adaptadas de romances e contos espanhóis entre eles, "La Martina" (adaptação de "La Esposa Infiel") e "La Delgadina". Porém, eles começaram a ganhar importância na época da Guerra da Independência do México (1810-1821) e atingiu seu ápice com a Revolução Mexicana (1910-1921), suas histórias possuíam conotações políticas, expressando o descontentamento geral da população com o regime opressor do ditador Porfirio Díaz. Outra função dos corridos foi a disseminação da informação, tanto oral, como impressa, pois os principais jornais da época eram controlados pelo governo. Cabe acrescentar que eles também foram muito populares durante as revoluções na Nicarágua.

Quanto às suas características formais, o corrido deriva em grande parte do romance, e em sua forma mais conhecida é constituída por uma saudação do cantor; prólogo para a história; história em si; uma moral e a despedida do cantor.

Quanto às suas características físicas, os corridos, geralmente, constituem-se em uma folha única, com o título no topo, uma gravura no centro (geralmente feita em zincogravura) e os versos distribuídos nas laterais da folha. Não encontrei em minhas pesquisas qual a o tamanho padrão dos corridos.

O principal gravador de corridos mexicanos foi José Guadalupe Posada (1852 - 1913), ele trabalhou para a tipografia de Antonio Vanegas Arroyo. Posada fazia desenhos em litogravura, xilogravura e zincografia, é dele a gravura de “La cucaracha”, estampada no início dessa postagem. A produção de Posada é muito rica e será retratada em uma postagem individual em breve.

Haviam também corridos contando histórias de amor, a vida cotidiana do camponês e histórias fictícias. O mais conhecido é “La cucaracha”, uma antiga musica que foi reformulada para comemorar as façanhas do exército de Pancho Villa e ridicularizar o seu inimigo Venustiano Carranza. Abaixo segue uma versão do corrido interpretada por Inti Illimani:


La cucaracha” interpretada por Inti Illimani

Outras famosas canções são La Adelita, que conta a história de uma moça que acompanhava as tropas. (Clique aqui para escutar). E “La Valentina”, sobre um rapaz apaixonado que sabe os perigos de amar Valentina.

Corrido “La Valentina” (Fonte: Wikipédia)

Antonio Vanegas Arroyo (1850 - 1917) se destaca como o principal editor de corridos. Pesquisando sobre o editor, encontrei outros tipos de publicações chamadas de “cuadernillos” que são muito semelhantes fisicamente aos folhetos de cordel, como não pude visualizá-los por dentro, não posso afirmar se formalmente se assemelham aos nossos versos de cordel. Abaixo segue um exemplo de cuadernillo.

El Dulcero Mexicano publicado por A. Vanegas Arroyo e com
ilustração de José Guadalupe Posada (Fonte: Pinterest)

Hoje em dia com a população dos meios de comunicação, os corridos perderam sua função de disseminar a informação e tornaram-se parte da cultura popular mexicana, é possível encontrar corridos sobre o tráfico de drogas (narcocorridos), imigração e até do lendário Chupacabra.

Essa foi uma breve história dos Corridos mexicanos, que se assemelham à nossa literatura de cordel pela composição dos versos e também nos faz lembrar das cantorias dos violeiros. Seguirei levantando informações para fazer uma postagem sobre os cuadernillos, que também parecem ser muito semelhantes aos nossos folhetos de cordel.
 
Mais informações: 
Antonio Vanegas Arroyo
BookDrum
Corrido
El Corrido Mexicano

LARA, Belem Clark de. La República de Las Letras: Publicaciones periódicas y otros impresos. Volume II. Mexico: Universidad Nacional Autónoma de México, 2005.

Como citar essa postagem: 
MEMÓRIAS DO CORDEL. Cordéis do Mundo #3 - Corridos Mexicanos. Diponível em: <http://www.memoriasdocordel.com.br/2014/02/cordeis-do-mundo-3-corridos-mexicanos.html>. Acesso em: dia Mês Ano.

Clássicos do Cordel #3 - Peleja do Cego Aderaldo com Zé Pretinho

Capa do folheto publicado em 1973 pela Tipografia
São Francisco (Fonte: www.casaruibarbosa.gov.br)

Seguindo a nossa série de postagens sobre os clássicos da literatura de cordel, apresentamos nessa semana “Peleja do Cego Aderaldo com Zé Pretinho” do poeta Firmino Teixeira do Amaral.

Título:
Peleja do Cego Aderaldo com Zé Pretinho

Autor:
Firmino Teixeira do Amaral

Sinopse:
Escrito por volta do início da década de 1910, Peleja do Cego Aderaldo com Zé Pretinho é uma história fictícia criada pelo poeta piauiense Firmino Teixeira do Amaral. A história se desenrola na localidade de Varzinha no Piauí, onde Cego Aderaldo é convidado para cantar. Chegando lá, o dono o desafia a duelar com Zé Pretinho. É nessa peleja que há o famoso mote “Quem a paca cara compra, paca a cara pagará”, cantado por Cego Aderaldo.

O duelo entre os dois cantadores é bem ríspido, Zé Pretinho desde o início ataca Cego Aderaldo com inúmeros chingamentos, só depois de inúmeros ataques é que Aderaldo resolve contra atacar. É interessante observar nesse cordel, a forma como os dois cantadores se agridem verbalmente. Zé Pretinho profere versos preconceituosos como:
Cego, creio que tu és
Da raça do sapo sunga
Cego não adora a Deus
O Deus de cego é calunga
Aonde os homens conversam
O cego chega e resmunga.
Cego Aderaldo em um dos seus versos também profere palavras preconceituosas:
Esse negro foi escravo
Por isso é tão positivo
Quer ser na sala de branco
Exagerado e ativo
Negro da canela seca
Todo ele foi cativo
A peleja entre esses dois cantadores reflete o comportamento da sociedade da época (primeiras décadas do século XX), onde o preconceito a negros, mestiços, deficientes, cegos, era recorrente. Um cordel como esse, se fosse escrito nos dias de hoje, causaria uma grande polêmica!

Abaixo segue outra versão da capa, publicada também pela Tipografia São Francisco em 1955, interessante observar que o nome do autor foi atribuído equivocadamente à João Martins de Athayde.
 
 Outra versão da capa publicada em 1955
(Fonte: www.casaruibarbosa.gov.br)

Mais informações: 
Mugango
Varneci Cordel

Como citar essa postagem: 
MEMÓRIAS DO CORDEL. Clássicos do Cordel #3 - Peleja do Cego Aderaldo com Zé Pretinho. Diponível em: <http://www.memoriasdocordel.com.br/2014/02/classicos-do-cordel-3-peleja-do-cego.html>. Acesso em: dia Mês Ano.

Xilógrafos Nordestinos #4 - Stênio Diniz

Stênio Diniz (Fonte: Portal O Nordeste)

Filho de Maria de Jesus da Silva Diniz e neto do grande José Bernardo da Silva, Stênio Diniz estar no hall dos grandes xilógrafos nordestinos, colecionando inúmeras exposições por todo o país e no exterior.

José Stênio Silva Diniz nasceu em Juazeiro do Norte no ano de 1953. Desde pequeno, já trabalhava ajudando a família na Tipografia São Francisco juntando papel durante o dia e fazendo o acabamento dos folhetos (encadernagem, dobragem e encapagem) durante a noite.

Inspirado nas xilogravuras de Mestre Noza e Walderêdo Gonçalves, Stênio Diniz, aos 15 anos de idade, começou a fazer xilogravuras. Sobre o seu início na xilogravura, Stênio relata ao pesquisador Gilmar de Carvalho:
"Inclusive foi o Noza quem me deu a segunda madeira pra eu trabalhar, que a primeira eu tive que roubar da gráfica porque falaram 'Não, você não sabe fazer, vai estragar essa madeira' (...) Já imprimi e mostrei que eu tava com vontade e que fiz. Ah, bom, ai meu avô viu, já pediu que eu fosse no Noza arranjar madeira lá pra trabalhar. Noza arranjou e eu comecei a fazer. Até hoje.” (CARVALHO, 2010, p. 179)
Stênio redesenhou muitas capas que eram de clichês de metal em clichês de madeira como: Donzela Teodora, Chegada de Lampião no Inferno e Peleja de Riachão com O Diabo.

Capa redesenhada por Stênio Diniz (Fonte: www.casaruibarbosa.gov.br)

Além de fazer capas para folhetos, Stênio chegou a escrever folhetos e também a desenhar inúmeros rótulos e marcas, para empresas da região, em xilogravura. Cabe acrescentar que o artista chegou a talhar xilogravuras de grandes tamanhos com 50 cm, 60 cm, 90 cm. Sua produção de gravuras artísticas, para exposição em museus e galerias, ganharam grande destaque no cenário das artes plásticas.

Mais informações: 
Acorda Cordel
CARVALHO, Gilmar de. Memórias da xilogravura. Fortaleza: Expressão Gráfica, 2010.

Como citar essa postagem: 
MEMÓRIAS DO CORDEL. Xilógrafos Nordestinos #4 - Stênio Diniz. Diponível em: <>. Acesso em: dia Mês Ano.

Cidades do Cordel #5 - Teixeira

Cidade de Teixeira/PB (Fonte: Wikimapia)

Teixeira é uma cidade localizada no estado da Paraíba, mais precisamente, na microrregião da Serra do Teixeira e fica distante 320 km da capital João Pessoa. De acordo com o último senso do IBGE (2010), a cidade possui uma população estimada em 14.153 habitantes.

A região tem um grande potencial para o ecoturismo, podemos destacar o Pico do Jabre, pico mais alto da Paraíba, que fica apenas 15 km de Teixeira; a Pedra do Tendó, uma formação rochosa de aproximadamente 800 metros de altitude, de onde é possível observar grande parte do sertão paraibano; A cachoeira "Poço da Besta” e a Pedra do Talhado.

Além da vocação para o Ecoturismo, Teixeira também se destaca como sendo o “Berço da Cantoria”.
A expressão cantoria é a junção que surge dos versos feitos na hora, repentinos, ‘de repente’ e, com o repentino cantar de tais versos, estes já são acompanhados ao som inconfundível das violas de bocas, instrumentos intrínsecos aos cantadores repentistas.
Diamante Online
Acredita-se que a cantoria surgiu no Sertão da Paraíba no final do século XVIII e início do século XIX, na região da serra do Teixeira. Inúmeros foram os cantadores e repentistas (Poeta-cantador) que se destacaram na cidade. Agostinho Nunes da Costa “O velho” (1797-1852) e seus filhos Antônio Ugolino Nunes da Costa (s/d), Ugolino do Sabugi (1832-1895) e Nicandro Nunes da Costa (1829-1918) foram os primeiros a fazer cantoria na região.

Zé Limeira foi o mais famoso cantador de Teixeira, chamado de “o mais mitológico dentre todos os repentistas surgidos no Brasil” e “o maior poeta surrealista do mundo”, o teixeirense nascido no sítio Tauá, foi alvo de estudos em universidades da França (berço do surrealismo), além do talento na poesia e no repente, Zé Limeira chamava atenção por seus trajes aberrantes e seu matulão. Sua história é muito rica e será mais detalhada em breve numa postagem individual sobre ele.

Outros cantadores teixeirenses de destaque são: Germano Alves de Araújo Leitão, o Germano da Lagoa (1842-1904); Bernardo Nogueira (1832-1895), de quem Câmara Cascudo descreveu como “Violeiro afamado, repentista invencível, mestre-de-armas sertanejo, jogando bem espada e cacete, era mais inteligente que letrado.” e Francisco Romano Caluête (1840-1891), o Romano da Mãe d’Água considerado o maior cantador de seu tempo e famoso por suas pelejas com Inácio da Catingueira.

Pode ser que alguns de nossos leitores estranhem a classificação de Teixeira como "cidade do cordel", mas acredito que essas duas artes estão atreladas e tivemos vários poetas que também foram cantadores como foi o caso de Silvino Pirauá e João Melchíades.

Mais informações:
Wikipedia
Cultura Popular, Etc
Diamante Online

Como citar essa postagem:
MEMÓRIAS DO CORDEL. Cidades do Cordel #5 - Teixeira. Diponível em: <http://memoriasdocordel.blogspot.com/2014/01/cidades-do-cordel-5-teixeira.html>. Acesso em: dia Mês Ano.

Clássicos do Cordel #2 - O Cachorro dos Mortos

Capa do folheto publicado em 1950 pela 
Tipografia São Francisco (Fonte: www.casaruibarbosa.gov.br)

Seguindo a nossa série de postagens sobre os clássicos da literatura de cordel, apresentamos nessa semana a obra “O Cachorro dos Mortos” do grande poeta Leandro Gomes de Barros.

Título:
O Cachorro dos Mortos

Autor:
Leandro Gomes de Barros

Sinopse:
A história desse cordel acontece na Bahia em 1806. Valdivino, filho de família rica, se apaixona por Angelita, filha do agricultor Sebastião Oliveira. Sabendo que Valdivino não tinham um bom caráter, Angelita rejeita casar-se com ele. Revoltado e com medo do pai e do irmão da garota, Valdivino arma uma emboscada na mata e assassina o irmão de Angelita, Floriano.

Angelita e sua irmã, Esmeralda, correm para mata ao escutarem os tiros e lá também são mortas por Valdivino. Toda essa chacina é testemunhada apenas pelo cachorro da família, Calar, que mesmo não podendo falar, faz de tudo para que o assassino seja punido.

Variação da capa feita em xilogravura (Fonte: www.casaruibarbosa.gov.br)

Como citar essa postagem:
MEMÓRIAS DO CORDEL. Clássicos do Cordel #2 - O Cachorro dos Mortos. Diponível em: <http://memoriasdocordel.blogspot.com.br/2014/01/classicos-do-cordel-2-o-cachorro-dos.html>. Acesso em: dia Mês Ano.

Grandes Nomes do Cordel #5 - Silvino Pirauá de Lima

Capa do folheto Historia do Capitão do Navio 
(Fonte: www.casaruibarbosa.gov.br)
Criador de mitos e inventor de pelejas fictícias, Silvino Pirauá de Lima foi ‘um gênio no seu universo sócio-cultural’. Em sua produção, abordou os mais variados temas, dando uma grande contribuição à literatura popular nordestina.” (SANTOS, 2010)
Silvino Pirauá de Lima nasceu em Patos-PB no ano de 1848, além de poeta, foi cantador e cordelista.

Filho de agricultores, Silvino teve uma infância pobre e distante da escola. Em virtude da seca de 1898 que atacava o sertão, mudou-se para Recife-PE, onde passou a cantar nas feiras e praças da cidade.

Ainda na capital pernambucana, iniciou a publicar folhetos, sendo considerado um dos precursores na publicação de folhetos de cordel. Silvino Pirauá formou parceria com os cantadores José Galdino da Silva Duda e, posteriormente, Antônio Batista Guedes, percorrendo importantes feiras do interior nordestino cantando e vendendo folhetos.

Silvino Pirauá foi discípulo do grande cantador, Francisco Romano Caluête, também conhecido como Romano do Teixeira ou Romano de Mãe d´Agua. De acordo com José Ozildo dos Santos: “Silvino Pirauá foi um grande violeiro, que soube honrar as lições do mestre, e sempre cultuou a sua memória” (SANTOS, 2010).

Por seus conhecimentos em Geografia, História Universal e Sagrada, recebeu a alcunha de seus colegas de “o poeta enciclopédico”. Sua descrição do Amazonas ficou famosa na época, onde o poeta versou sobre os peixes, bichos da selva, aves e árvores. Infelizmente, essa descrição se perdeu com o tempo.

O Poeta também introduziu inovações formais na literatura de cordel, criando o martelo agalopado e sendo um dos precursores no uso da sextilha. Foi considerado por Francisco das Chagas Batista como um exímio violeiro e grande repentista, vencendo inúmeros cantadores e nunca tendo sido derrotado.

São de Pirauá, vários clássicos da literatura de cordel, como: História do Capitão do Navio, História de Três Irmãs que Queriam Casar com Um Rapaz Só, História da Princesa Rosa, História de Zezinho e Mariquinha, Descrição do Amazonas, Peleja de Francisco Romano e Inácio da Catingueira.

Silvino Pirauá faleceu na cidade de Bezerros-PE, em 1913 (aos 53 anos de idade), vitimado de varíola.

Para terminar a postagem, acredito que é válido falar sobre um equívoco que acontece em vários sites que expõem uma suposta foto de Silvino Pirauá. Na verdade a foto é do artista plástico lituano Lasar Segall, não se sabe ao certo como a foto do artista veio a ser vinculada com Pirauá, fica aqui o esclarecimento.

Artista Plástico Lasar Segall (Fonte: Espaço Arte)

Mais informações: 
Construindo a História
Fundação Casa de Rui Barbosa

GASPAR, Lúcia. Silvino Piruá de Lima. Pesquisa Escolar Online, Fundação Joaquim Nabuco, Recife. Disponível em: <http://basilio.fundaj.gov.br/pesquisaescolar/>. Acesso em: 10 Jan 2014.
SANTOS. José Ozildo dos. Silvino Pirauá de Lima: O Poeta Enciclopédico. Revista Acordando o Cordel, Coremas-PB. Ano 1, nº 1, pág. 31-32. Out 2010.

Como citar essa postagem:
MEMÓRIAS DO CORDEL. Grandes Nomes do Cordel #5 - Silvino Pirauá de Lima. Diponível em: <http://memoriasdocordel.blogspot.com.br/2014/01/grandes-nomes-do-cordel-5-silvino.html>. Acesso em: dia Mês Ano.

Clássicos do Cordel #1 - As Grandes Aventuras de Armando e Rosa Conhecidos por "Côco Verde" e "Melancia"

Capa do folheto publicado em 1944 (Fonte: www.casaruibarbosa.gov.br)

Começando 2014 e o Memórias do Cordel inicia o ano com mais uma nova série de postagens, “Clássicos do Cordel” tem o objetivo de apresentar aos nossos leitores os maiores clássicos da literatura de cordel, através do título, autor e uma breve sinopse. Começaremos com o clássico As Grandes Aventuras de Armando e Rosa Conhecidos por "Côco Verde" e "Melancia" do poeta José Camelo de Melo Rezende.

Título:
As Grandes Aventuras de Armando e Rosa Conhecidos por "Côco Verde" e "Melancia"

Autor:
José Camelo de Melo Rezende

Sinopse:
O folheto conta a história de Armando e Rosa, jovens que viviam numa cidade próxima a Natal-RN e moravam em fazendas vizinhas. Armando e Rosa começaram a namorar ainda quando crianças, aos 6 anos de idade, temendo que o professor descobrisse o romance, passaram a usar “codinomes” para se identificarem, Armando usou o nome de Côco Verde e Rosa de Melancia. A história se desenrola a partir dos conflitos que o casal enfrenta quando Armando resolve pedir a mão de Rosa ao seu pai, Tiago.

Como citar essa postagem:
MEMÓRIAS DO CORDEL. Clássicos do Cordel #1 - As Grandes Aventuras de Armando e Rosa Conhecidos por "Côco Verde" e "Melancia". Diponível em: <http://memoriasdocordel.blogspot.com/2014/01/classicos-do-cordel-1-as-grandes.html>. Acesso em: dia Mês Ano.

A Questão dos Direitos Autorais no Cordel

Símbolo da Justiça (Fonte: Acervo Memórias do Cordel) 

A preocupação dos poetas com os direitos autorais na literatura de cordel vem desde o início do século XX. Nessa postagem vamos mostrar três casos onde é possível observar a preocupação dos autores.

O primeiro caso é a contracapa do folheto História de João da Cruz (1917) de Leandro Gomes de Barros. Preocupado com a reprodução de seus folhetos sem autorização, o poeta resolve estampar sua foto nos folhetos para prevenir a “pirataria” de seus trabalhos:

Contracapa do folheto História de João da Cruz (Fonte: www.casaruibarbosa.gov.br)
Aviso importante: Aos meus caros leitores do Brasil Ceará, Maranhão,
Pará e Amazonas aviso que desta data em diante todos os meus
folhetos completos trarão o meu retrato. Faço este aviso afim de
prevenir aos incautos que teem sido enganados na sua bôa fé por
vendedores de folhetos menos serios que teem alterado e publicado os
meus livros, comettendo assim um crime vergonhoso.

(BARROS, 1917).
Essa medida de Leandro pode ser observada em vários de seus folhetos, entre eles Antonio Silvino o rei dos cangaceiros publicado entre os anos de 1910-1912 em Recife/PE.

Neste segundo exemplo podemos observar o comunicado do editor Pedro Baptista aos leitores, nas primeiras páginas do folheto A Força do Amor (1918), dizendo que ele é o único detentor dos direitos de reprodução das obras de Leandro:

Página interna do folheto do folheto A Força do Amor (Fonte: www.casaruibarbosa.gov.br)
Aviso: Tendo fallecido o poeta Leandro Gomes de Barros, passou ao
meu possuido a propriedade material de toda a sua obra literaria. Só a
mim pois cabe o direito de reprodução dos folhetos do dito poeta e
acho-me habilitado a agir dentro da lei contra quem commetter o crime
de reprodução de ditos folhetos. Previno as pessoas que negociam com
folhetos, que tenho em deposito todos os que o poeta escreveu e que
vendo-os pelos preços mais resumidos possiveis, dando bôa commisão.

(BARROS, 1918).
O terceiro caso é o acróstico, que é quando o autor utiliza as iniciais do seu nome em cada estrofe do último verso da história, essa foi uma medida utilizada pelos poetas para provar a autoria das histórias, assim nenhum outro poeta poderia utilizar essa história e assinar como se fosse sua:

História de João da Cruz (Fonte: www.casaruibarbosa.gov.br)

Alguns casos suspeitos de plágio são famosos na literatura de cordel, entre eles está a polêmica que envolve José Camelo de Melo e João Melchíades, onde Camelo acusa Melchíades de “usurpar” o romance O Pavão Misterioso. (Quer saber mais sobre a polêmica? Clique aqui)

O poeta e editor João Martins de Athayde também sofreu acusações de plágio, o poeta foi acusado de publicar folhetos de Leandro Gomes de Barros onde a informação de autoria e o nome do poeta paraibano foram retirados, Athayde foi acusado também de modificar os acrósticos de alguns poemas. (Quer saber mais sobre João Martins de Athayde? Clique aqui)

Chegamos ao final da nossa postagem, vale lembrar que o nosso objetivo aqui foi demonstrar a preocupação dos poetas com os direitos autorais e despertar a curiosidade de nossos leitores para pesquisas mais aprofundadas sobre o tema.

Mais informações: 
BARROS, Leandro Gomes. História de João da Cruz. Recife: Popular Editora, 1917.
_____________________. A força do amor. Guarabira: Livraria Pedro Baptista, 1918.

Grandes Nomes do Cordel #2 João Martins de Athayde
Grandes Nomes do Cordel #4 João Melchíades

Como citar essa postagem: 
MEMÓRIAS DO CORDEL. A Questão dos Direitos Autorais no Cordel. Diponível em: <http://memoriasdocordel.blogspot.com.br/2013/12/a-questao-dos-direitos-autorais-no.html>. Acesso em: dia Mês Ano.

Cuíca de Santo Amaro

Cuíca de Santo Amaro (Fonte: oliveiradimas.blogspot.com.br)
Cuíca de Santo Amaro deixa um legado picante e irônico da vida baiana, versos como vísceras de uma cidade emprenhada de preconceitos e hipocrisia. Sua obra abrangente e variada é como um jornal do povo, o melhor da tradição jornalística da literatura popular.
Fonte: Site Oficial do Filme
Cuíca de Santo Amaro é um documentário dirigido por Joel Almeida e Josias Pires. Realizada a partir de relatos orais de 50 pessoas que tiveram algum tipo de contato com Cuíca e de cerca 300 folhetos de cordel, a obra cinematográfica é fruto dos estudos feitos por Edilene Matos, Mark Curran e de precisas indicações do poeta Carlos Cunha.

No filme, Cuíca é vivido pelo ator Roberto Ferreira, que criou personagem famosa da Bahia de Cuíca, conhecida como Zé Coió. Durante o filme são apresentados fragmentos da trajetória de vida do poeta através de relatos de familiares, intelectuais e populares que conheceram e viram as performances de Cuíca em Salvador e no Recôncavo Baiano.

As filmagens do documentário ocorreram entre abril de 2008 e janeiro de 2011 na cidade de Salvador e na região do Recôncavo da Bahia. Para a sua realização foram pesquisados os acervos da Fundação Pierre Verger, Biblioteca Mário de Andrade, Fundação Casa de Jorge Amado, Instituto Lina Bo Bardi, Academia de Letras da Bahia, Biblioteca Central dos Barris, Irdeb, entre outros.


Trailler do Documentário

Cuíca de Santo Amaro
José Gomes, mais conhecido como Cuíca de Santo Amaro, nasceu no dia 19 de março de 1907 em Salvador/BA.  Poeta, Cordelista e Trovador, Cuíca produziu cerca de mil folhetos entre os anos de 1930 e 1963.

Cuíca de Santo Amaro foi considerado como o maior o trovador da Bahia por Jorge Amado, que fez dele personagem dos romances Pastores da Noite e A Morte e A Morte de Quincas Berro D’Água, de acordo com o escritor:
"Cuíca de Santo Amaro é uma organização: escreve seus versos, manda imprimi-los, desenha ele mesmo os cartazes de propaganda que conduz sobre os ombros, vende folhetos com os poemas e canta os melhores versos para atrair a freguesia” 
Cuíca faleceu no dia 23 de janeiro de 1964. Deixaremos mais detalhes da vida do cordelista para quem for apreciar o documentário.

Ficha Técnica:
Direção – Joel de Almeida e Josias Pires
Produção Executiva – Adler Paz, Bau Carvalho e Lula Oliveira
Direção de Arte – Ian Sampaio
Montagem – Bau Carvalho
Direção de Produção – Luciana Freitas e Marise Berta
Direção de Fotografia – Paulo Hermida
Direção Musical – Tuzé de Abreu
Som direto – Rodrigo Alzueta e Napoleão Cunha
2012 – 75 minutos

Mais informações:
Site Oficial do Filme
Facebook Oficial
Blog Oficial
Portal do Cordel

Como citar essa postagem: 
MEMÓRIAS DO CORDEL. Cuíca de Santo Amaro. Diponível em: <http://memoriasdocordel.blogspot.com.br/2013/11/cuica-de-santo-amaro.html>. Acesso em: dia Mês Ano.

Cordeltecas #7 - Fundação Memorial Padre Cícero

Fundação Memorial Padre Cícero (Fonte: Wikimedia.org)

A Fundação Memorial Padre Cícero é uma instituição que tem por objetivo resgatar e preservar a memória cultural e histórica de Juazeiro do Norte e do Padre Cícero Romão Batista. A Fundação foi criada em 22 de julho de 1988, ainda sob o nome de Fundação Juazeiro do Norte, vindo a receber a atual denominação em 20 de março de 1993.

A Instituição é composta de três espaços principais: Museu, Biblioteca e Auditório, que funcionam de forma integrada. Seu auditório é utilizado com frequência em eventos, congressos, simpósios, etc., e tem capacidade para 350 pessoas sentadas.

O museu da Fundação Memorial Padre Cícero possui um rico acervo referente ao Padre Cícero, o espaço é composto de fotografias históricas, objetos religiosos e de uso pessoal do Padre, além de 10 quadros temáticos, óleo sobre tela, do Pintor Marcus Jussier que retratam a trajetória religiosa e também política do Patriarca de Juazeiro, e um 11º quadro do mesmo artista que apresenta o Padre Cícero em seu tamanho original (1,65m).

Outra parte do rico acervo da instituição está localizada na Biblioteca temática Padre Cicero, criada junto à Fundação em 1988, a biblioteca reúne um expressivo acervo de cerca de 1600 livros, 2 mil jornais, 1 mil fotografias históricas e aproximadamente 1500 cordéis de diversos autores. Dentre o acervo de jornais, está a coleção do jornal O Rebate, primeiro jornal da cidade e importante veículo de luta pela emancipação política, da então vila de Juazeiro, em relação ao município do Crato, o jornal também foi o primeiro veículo impresso da cidade a estampar xilogravuras em suas páginas.

A Fundação funciona de segunda à sexta das 07:00h às 11:30h e das 13:30h às 17:30h, e nos sábados e domingos das 07:30h às 17:30 (sem fechar para o almoço). No dia 20 de cada mês, por conta da missa do Padre Cicero celebrada às 6h da manhã na Capela do Socorro (em frente ao Museu), a fundação abre meia hora antes (07:00h) e fecha às 17:00h, para que os fiéis tenham a oportunidade de visitar o museu na saída da celebração, antes de retornarem às suas cidades. A entrada é gratuita.

Fica aqui a nossa sugestão a quem for à Juazeiro do Norte, não deixe de visitar a Fundação Memorial Padre Cícero.

Mais informações: 
Fundação Memorial Padre Cícero
Praça do Cinquentenário, Bairro do Socorro, Juazeiro do Norte.
Fone: (88) 3511-4487
Facebook

Como citar essa postagem: 
MEMÓRIAS DO CORDEL. Cordeltecas #7 - Fundação Memorial Padre Cícero. Diponível em: <>. Acesso em: dia Mês Ano.

Grandes Nomes do Cordel #4 - João Melchíades

João Melchíades Ferreira da Silva (Fonte: Wikipédia)

João Melchíades Ferreira da Silva nasceu no ano de 1869, na cidade de Bananeiras, brejo da Paraíba. Filho de pequenos proprietários, e órfão de pai ainda quando era pequeno, Melchíades nunca frequentou a escola, veio aprender a ler com um dos seus avós que era professor na região.

Com 19 anos, entrou para o Exército, onde participou de importantes campanhas como a Guerra de Canudos em 1897 e a disputa territorial no Acre em 1903, vindo ser promovido a Sargento. Em 1904, por motivos de saúde, deu baixa no Exército e fixou residência na capital da Paraíba, onde casou e teve quatro filhos.

Não encontrei em minhas pesquisas uma data exata de quando João Melchíades iniciou a publicar folhetos, porém, acredito que tenha sido após 1904, época em que deu baixa das forças armadas em 1904.

Melchíades imprimia seus folhetos principalmente na Popular Editora, do seu amigo Francisco das Chagas Batista. Suas obras se destacavam pelo combate ao protestantismo, a exaltação da fé cristã e do sertão, principalmente da Serra da Borborema, sua região de origem, onde se intitulou o “Cantor da Borborema”.

Entre os principais folhetos do poeta estão: A Guerra de Canudos, o primeiro cordel sobre Antônio Conselheiro, que foi identificado pelo pesquisador José Calasans; História do Valente Sertanejo Zé GarciaQuinta Peleja dos Protestantes Com João Melchíades e A História de Carlos Magno e os 12 pares de França.

História Sertaneja Valente Zé Garcia (Fonte: Fundação Casa de Rui Barbosa)

O poeta também foi pivô de uma das maiores polêmicas da história do cordel: a autoria do romance O Pavão Misterioso, no qual é acusado de “usurpar” a história do poeta José Camelo de Melo Resende, porém deixo aqui o link para o texto de Arievaldo Viana que trata sobre essa questão de forma mais esclarecedora (Ler o texto na íntegra).

João Melchíades faleceu em João Pessoa no dia 10 de dezembro de 1933. Antônio Ferreira da Cruz escreveu um folheto póstumo sobre a morte do grande poeta “A Morte do Trovador João Melchíades”.

Após a morte de Melchíades, o poeta e editor, Manoel Camilo dos Santos passou a editor os seus folhetos, essa questão dos direitos de publicação também gera certa polêmica, em carta publicada ao Blog Acorda Cordel, Vladimir Melo (Bisneto de João Melchíades) conta que sua avó: “negou até o fim da vida que tivesse intencionalmente vendido os direitos autorais da obra de João Melchíades. Alegou nunca ter recebido nada e que apenas concordou com a publicação dos cordéis.” (Ler o texto na íntegra)

Mais informações:
BENJAMIM, Roberto. João Melchíades Ferreira: biografia. Fundação Casa de Rui Barbosa. Disponível em: <http://www.casaruibarbosa.gov.br/cordel/JoaoMelquiades/joaoMelquiades_biografia.html>. Acesso em: 15 set. 2013.
GASPAR, Lúcia. João Melchíades Ferreira. Pesquisa Escolar On-Line, Fundação Joaquim Nabuco, Recife. Disponível em: <http://basilio.fundaj.gov.br/pesquisaescolar/>. Acesso em: 15 set. 2013.
TERRA, Ruth Brito Lemos. Memória de lutas: a literatura de folhetos do Nordeste (1893-1930). São Paulo: Global, 1983.
VIANA, Arievaldo. 142 anos de João Melchíades. Blog Acorda Cordel. Disponível em: <http://acordacordel.blogspot.com.br/2011/09/142-anos-de-joao-melchiades.html>. Acesso em: 17 set. 2013.

Como citar essa postagem:
MEMÓRIAS DO CORDEL. Grandes Nomes do Cordel #4 - João Melchíades. Diponível em: <http://memoriasdocordel.blogspot.com.br/2013/09/grandes-nomes-do-cordel-4-joao.html>. Acesso em: dia Mês Ano.

Cordéis do Mundo #2 - Colportage

Capa do colportage: Pierre de Provence Et La Belle Maguelone
(Fonte: Everardo Ramos)
De la fin du XVIe siècle à la fin du XIXe siècle, de la France des rois Bourbon à la Troisième République, pendant près de trois siècles, la Bibliothèque bleue a constitué, pour la majorité de la population, le moyen le plus commun d'accéder à la culture écrite.
(ROCHE, 1982)

Traduzindo: Desde o final do século XVI até o final do século XIX, da França dos reis Bourbon à Terceira República, por quase três séculos, a Biblioteca Azul tem sido para a maioria da população, o meio mais comum de acesso à cultura escrita.
De acordo com Marc Soriano (2013) o Colportage ou "Bibliothèque Bleue", apareceu na França a partir de 1602. O impressor da cidade de Troyes (condado de Champagne) Nicolas Oudot, foi quem começou a produzir os livretos, reutilizando os clichês de madeira e os tipos utilizados nas fábricas locais.

De acordo com Daniel Roche (1982), a maior parte da produção de livros azuis foi desenvolvida em oficinas na cidade de Troyes. No final do século XVIII, foram identificadas mais de cento e cinquenta impressoras e setenta centros de produção.

A denominação colportage se deu pela forma como os folhetos eram vendidos, não achei uma tradução literal para o termo, mas acredito que “colportage” vem da palavra “colporteur” que significa mascate, vendedores de rua. Já a denominação "bibliothèque bleue" foi dada em razão da grande variedade de livros de colportage (abrangiam além da poesia, a vida dos santos, orações, hinos, novelas, sátiras, contos de fadas, almanaques, dentre outros) e que todos eles tinham em comum a cor do papel que era um cinza azulado.

Além da capa azulada, os colportages se caracterizavam pelo formato pequeno (10 a 20 cm), o layout apertado, a impressão de baixa qualidade e as ilustrações em xilogravura (recicladas da indústria local). Muitos livretos também não apresentavam menção de autor, data de publicação e local de publicação, o que dificultou a catalogação de muitos deles.

Capa do colportage Histoire De La Belle Heleine de Constantinople
(Fonte: Everardo Ramos)

Assim como aconteceu no Brasil e na Espanha, os colportages também eram declamados em voz alta pelos vendedores ambulantes, que tiveram vital importância na difusão desses livretos pelo território francês.

Os temas eram os mais diversificados, merecendo destaque os romances de cavalaria como: Huon de Bordeaux, História de quatro Aymon filho, les Conquêtes de Charlemagne (as conquistas de Carlos Magno) e l'Histoire de Jean de Paris. Ducray-Dumenil foi um dos principais escritores de colportage com obras clássicas como: Victor ou l'Enfant de la forêt, Cœlina, le Petit Orphelin du hameau, Paul ou la Ferme abandonnée, les Cinquante Francs de Jeannette, Petit Jacques et Georgette, le Petit Carillonneur e Lolotte et Fanfan.

De acordo com texto publicado no site Larousse, a literatura de colportage começou a entrar em decadência a partir de 1840, época em que começaram a ser publicadas novelas em jornais, o que fez com que o público consumidor de colportage, deixasse de adquirir gradativamente os livretos. Os últimos vendedores ambulantes de colportage trabalharam até a década de 1930.

Para conhecimentos mais aprofundados sobre o colportage, indico o livro La Bibliothèque bleue: littérature populaire en France du XVIIe au XIXe siècleprésentée de Geneviève Bollème e a obra Histoire des livres populaires ou de las littérature du colportage depuis le XV siècle (1854) que pode ser baixada clicando aqui.

Mais informações: 
DEBLOCK, Geneviève. Impressions populaires: La collection de livrets conservée au MuCEM et la diffusion des savoirs par les livres de colportage (XVIIe-XIXesiècles), Documents pour l'histoire des techniques [En ligne], 16 | 2e semestre 2008, mis en ligne le 04 octobre 2010, consulté le 30 août 2013. Disponível em: <http://dht.revues.org/677>. Acesso em 24 Ago 2013.
ROCHE, Daniel. In: CHARTIER, Roger. Figures de la gueuserie. Paris: Montalba, 1982.
SORIANO, Marc. Colportage Littérature de. Disponível em: <http://www.universalis.fr/encyclopedie/litterature-de-colportage/>. Acesso em 26 Ago 2013.

Bibliomab : Le Monde Autour Des Livres Anciens Et Des Bibliothèques
Encyclopédie Larousse
Everardo Ramos
Historisches Lexikon der Schweiz

Como citar essa postagem: 
MEMÓRIAS DO CORDEL. Cordéis do Mundo #2 - Colportage. Diponível em: <http://memoriasdocordel.blogspot.com/2013/09/cordeis-do-mundo-2-colportage.html>. Acesso em: dia Mês Ano.

O Caldeirão da Santa Cruz do Deserto

Poster do longa metragem  (Fonte: Filmow)

Sobre o Documentário
O Caldeirão da Santa Cruz do Deserto é o documentário no qual estreou o cineasta cearense Rosemberg Cariry, em 1986. O longa retrata a história da comunidade religiosa do Caldeirão, que tinha como líder o beato José Lourenço. Pautada pelo trabalho, igualdade e religião, a comunidade logo obteve grande progresso, o que despertou a atenção das autoridades locais que acusavam os membros de comunistas e de realizarem atos profanos. A partir de depoimentos de remanescentes da época, o documentário resgata a memória da comunidade do Caldeirão da Santa Cruz do Deserto.

Sobre o Caldeirão
O Caldeirão de Santa Cruz do Deserto foi liderado por José Lourenço Gomes da Silva, o beato José Lourenço. Nascido em Pilões de Dentro, na Paraíba, o beato chegou a Juazeiro do Norte no ano de 1889, época do milagre da hóstia, realizado por Pe. Cícero.

Durante o período que esteve na cidade, o beato arrendou um lote de terra no sítio Baixa Dantas, município do Crato, onde formou uma comunidade.

Os problemas de José Lourenço com a igreja e o estado começaram em 1921, quando Pe. Cícero deixou aos cuidados dele um boi que recebeu de Delmiro Gouveia. Por se tratar de um presente do padre, o boi era bem tratado pelos membros da comunidade. Se aproveitando da oportunidade, os inimigos do Padre começaram a espalhar o boato de que as pessoas do sítio estavam adorando o boi e que o mesmo estaria fazendo milagres. Jose Lourenço acabou sendo preso por tal episódio e o boi sacrificado. Dias depois, por intermédio de Pe. Cícero, o beato foi solto e retornou a comunidade.

Em 1926, o sitio foi vendido e todos tiveram de deixar o local. Pe. Cícero resolveu intervir e enviou o beato e os membros da comunidade para a fazenda Caldeirão dos Jesuítas, no sopé da Serra do Araripe, distante vinte quilômetros do Crato.

No Caldeirão, a comunidade cresceu e se organizou, como afirma Tarcísio Marcos Alves:
"Na comunidade, a experiência vivida expressou-se em uma experimentação concreta da fé, a materialização de uma nova forma de vida: o trabalho tornou-se um meio para a salvação da alma. Foi a partir desta perspectiva religiosa - o trabalho como penitência - , que a comunidade camponesa do Caldeirão se organizou."
Cada família tinha sua casa, todos trabalhavam em favor da comunidade e recebiam de forma igualitária, o excedente era vendido e com o lucro se comprava querosene e remédios. O Caldeirão chegou a ter mais de dois mil habitantes e com esse crescimento, as atividades se diversificaram de tal forma que era possível encontrar profissionais das mais diversas especialidades, tornando o sítio praticamente autossustentável.

Após a morte de Pe. Cícero em 1934, o Caldeirão passou a sofrer pressões das elites políticas e religiosas que começaram a se preocupar com o crescimento da comunidade e a popularidade do beato, que poderia se transformar em um novo Antônio Conselheiro. Os jornais iniciaram uma série de denúncias contra a comunidade e José Lourenço, acusando-os de profanos e fanáticos.

Em 1936, o Caldeirão foi invadido pelo Tenente José Góis de Campos Barros e sua tropa, que com muita violência e excesso, expulsaram todos os moradores, saquearam e destruíram o sítio. José Lourenço conseguiu fugir e se refugiou na Serra do Araripe com outros camponeses.

Severino Tavares, membro da comunidade, após sair da prisão, prometeu vingança às tropas da polícia. Mesmo sendo contra a vingança, José Lourenço não conseguiu impedi-lo. Severino montou uma emboscada com alguns seguidores e atacaram as tropas comandadas pelo Capitão José Bezerra. Ao fim da batalha, o Capitão, Severino e seu filho, estavam mortos.

O ocorrido foi o estopim para o conflito, tropas de todo o estado foram enviadas para a serra do Araripe, até aviões foram usados para bombardear a Serra. De acordo com Tarcísio Marcos Alves: "Foi a primeira ação de extermínio do Exército Brasileiro, e Polícia Militar do Estado do Ceará. Acontecera o primeiro ataque aéreo da história do Brasil." Fontes orais afirmam que o número de mortos foi entre 700 a 1000 camponeses.

Após escapar do bombardeio, José Lourenço ainda conseguiu voltar para o Caldeirão, no ano de 1938, depois de muitas negociações. Mas não ficou muito tempo, logo foi expulso pelos padres salesianos. José Lourenço acabou indo morar com algumas famílias remanescentes da comunidade em Exu, Pernambuco, onde adquiriu uma pequena propriedade. O Beato viveu em Exu por oito anos, vindo a falecer no dia 12 de fevereiro de 1946, vitimado pela peste bubônica.

Seu foi conduzido pela Chapada do Araripe até Juazeiro do Norte. Chegando à capela onde seria realizada a missa de corpo presente, o padre responsável pela celebração se recusou a cumprir o ritual.

Para mais informações sobre o ocorrido, indico o texto do professor da UFPE Tarcísio Marcos Alves, que está no final da postagem.

Ficha Técnica
Gênero: Documentário
Diretor: Rosemberg Cariry
Ano de Lançamento: 1985
País de Origem: Brasil
Direção: Rosemberg Cariry
Roteiro: Rosemberg Cariry e Firmino Holanda
Produção Executiva: Francis Gome Vale, José Wilton (Dede) e Teta Maia
Dir. de Produção: Robson Gomes de Azevedo e Jeferson de Albuquerque Jr.
Assistente de Produção: Teta Maia; José Roberto França; Carlos Alberto Normando; Jacson Bantim e Silvanildo Tavares
Direção Fotografia: Ronaldo Nunes
Montagem/Edição: Carlos Cox e Manfredo Caldas

Mais informações:
"A Tragédia Da Comunidade Camponesa Igualitária Do Sítio Caldeirão" texto de Tarcísio Marcos Alves
Cultura no Cariri
Geraldo Valintim

Como citar essa postagem:
MEMÓRIAS DO CORDEL. O Caldeirão da Santa Cruz do Deserto. Diponível em: <http://memoriasdocordel.blogspot.com.br/2013/08/o-caldeirao-da-santa-cruz-do-deserto.html>. Acesso em: dia Mês Ano.